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A história da Pedra Do Reino.

Quaderna junta a história de seu bisavô a outro acontecimento trágico – a misteriosa morte de seu tio-padrinho, o rico fazendeiro D. Pedro Sebastião Garcia-Barreto (Pedro Henrique), considerado por ele um pai. Quaderna é afilhado e sobrinho de Dom Pedro Sebastião por parte de mãe, Maria Sulpícia (Vanderléia Pimenta). Em suas pesquisas, conclui que suas duas famílias remontam ao mesmo rei: Dom Sebastião, de Portugal. Influenciado pelas histórias de realeza e pela cultura sertaneja em que foi criado, tendo convivido com cantadores, poetas populares, folguedos e cavalhadas do sertão, Quaderna passa a sonhar com um novo reino. Ele vai à Pedra do Reino e se coroa rei, herdeiro legítimo do trono do sertão e do Brasil, e dá início ao projeto de sua grande obra.

Tramas Paralelas.

Samuel Wandernes (Frank Menezes) é um promotor de justiça, fidalgo dos engenhos do Recife, apaixonado pela aristocracia e pelos brasões armoriais. Ele sustenta que a família Garcia-Barreto tem origem no próprio rei Dom Sebastião de Portugal, que, após escapar da morte na batalha contra os mouros, teria vindo incógnito para o Brasil. Direitista, Samuel declara fidelidade a Plínio Salgado, o fundador do movimento ultranacionalista Ação Integralista Brasileira.

Vivendo a mesma paixão.

 

Muitos outros personagens aparecem nos relatos de Quaderna, como o idealista e visionário Adalberto Coura (Tay Lopez), jovem revolucionário que tenta convencer Arésio (Luiz Carlos Vasconcelos) a usar sua ferocidade e personalidade dominadora a favor da Revolução Socialista. Mas, embora despreze as autoridades, Arésio é um individualista, contrário às teorias revolucionárias. No meio dos dois está a jovem Maria Inominata (Jyokonda Rocha), noiva de Adalberto e antiga paixão de Arésio.

Referências ao nazi-fascismo​.

Na narração de Quaderna também aparecem Clara Swendson (Iziane Mascarenhas) e Gustavo de Moraes (Anthero Montenegro), filhos de Edmundo Swendson (Germano Haiut) e Antonio de Moraes (Jones Melo), adversários nas atividades econômicas e políticas. Os dois jovens são a favor de um “embranquecimento” da raça humana e fazem um pacto de amor casto, em uma alusão ao nazi-fascismo.

Erva e bebida dão onda.

Outro personagem destacado por Quaderna é o violeiro Lino Pedra-Verde (Flávio Rocha), seu amigo de infância,acostumado a ter visões desde menino. Suas premonições se agravaram depois que passou a mascar erva-moura e beber o vinho encantado da Pedra do Reino, cuja receita foi descoberta por Quaderna.



O livro O Romance d´a Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, que deu origem à minissérie, é considerado a obra-prima do escritor paraibano Ariano Suassuna, que fez aniversário no dia da exibição do último capítulo do programa.

Ariano Suassuna.

Escrito em 1971, o livro de Ariano Suassuna é um misto de romance de cavalaria e novela picaresca. A obra mostra que as culturas nordestina e sertaneja têm raízes ibéricas, com muitos elementos da Idade Média, da commedia dell´arte e também da cultura árabe, por conta de mais de 700 anos da dominação de Portugal e Espanha pelos mouros. Lendas, sebastianismo, fatos verídicos, muita sátira e o universo das cavalhadas, dos romancistas, cordelistas, cantadores e repentistas do sertão estão presentes na adaptação.

Trilha Sonora.

A trilha original de A Pedra do Reino foi elaborada por Marco Antônio Guimarães, compositor do grupo mineiro Uakti, conhecido por desenvolver seus próprios instrumentos musicais. Ele reeditou com o diretor Luiz Fernando Carvalho a parceria do filme Lavoura Arcaica (2001) e criou uma mistura estético-cultural unindo ritmos ibéricos, árabes, indianos, nordestinos, ciganos e indígenas. Entre os instrumentos que usou na minissérie estão o “chori” (feito com uma cabaça grande e duas cordas) e o “iarra”, ambos tocados com arco. A produção da trilha sonora coube a Cláudio Costa.

A Origem da História.

 

Durante três anos, de 1835 a 1838, na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco, uma comunidade com cerca de mil pessoas morou próximo às pedras de 30 e 33 metros de altura, sob a liderança do jovem João Antônio dos Santos e posteriormente de seu cunhado João Ferreira; a partir dali nasceria a fantástica história das "Pedras do Reino".

 

A crença era baseada no sebastianismo. Inspirado em cordel sobre D. Sebastião, João Antônio dizia que o mitológico rei português (morto no século 16 em batalha contra os mouros) desencantaria ali, e acreditavam no aparecimento, em pleno sertão, do Reino Encantado de Dom Sebastião, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império Português, livrando o povo das mazelas. A espera terminou com o massacre da Pedra do Reino, em que 53 pessoas, dentre essas, 20 crianças; e 14 cães morreram em sacrifício, entre os dias 14 e 16 de maio de 1838.

Dom Sebastião foi o Rei português morto em 1578 quando, aos 24 anos, se lança numa nova Cruzada, rumo ao Marrocos. Na tentativa de converter mouros em cristãos, desaparece na batalha de Alcácer Quibir. Seu corpo nunca fora encontrado. Portugal anos depois passa para as mãos espanholas. Cresce em terras lusas o sonho de que D.Sebastião um dia retorne para restaurar o Império Português. O mito se estabelece.

 

No Brasil, o mito sebastianista da Pedra do Reino prometia que o Rei finalmente voltaria do deserto instalando aos pés da Pedra Bonita – nome primitivo da Pedra do Reino – um Reino Encantado. Distribuiria riqueza, terras e libertaria os negros da escravidão. O sangue dos fiéis derramado nas Pedras - pregava o líder dos sebastianistas - abriria caminho para o “desencantamento” do Rei.


O Movimento fanático surgiu no município de Floresta (em área que depois integraria o município de São José do Belmonte), interior de Pernambuco, em 1836, um ano depois de o estado sofrer uma grande seca. Teve início com as pregações do beato João Antônio. O beato foi logo seguido por uma legião de adeptos, mas, pressionado por padres católicos, desistiu da iniciativa. Dois anos depois, João Ferreira (um cunhado do beato João Antônio) reinicia o movimento, com as mesmas promessas de criação do "Reino Encantado". O fanático João Ferreira reunia seus seguidores em torno de um grande rochedo;a "Pedra do Reino"; e dizia que, para que o rei Sebastião revivesse e pudesse realizar o milagre da riqueza, era preciso que a grande pedra ficasse totalmente tingida com sangue humano. Quem doasse o sangue para a volta do rei seria recompensado: velhos ressuscitariam jovens; pretos voltariam brancos e todos, além de ricos, seriam imortais na nova vida. Tiradas de suas lavouras pelo flagelo da seca, famílias de agricultores acamparam em volta da rocha e passaram a aguardar o milagre.


 

Os registros oficiais sobre a Pedra do Reino citam uma beberagem à base de manacá com jurema servida por João Ferreira aos seus seguidores, durante as cerimônias sebastianistas. Um é raiz; a outra, erva. Ambos, fortes alucinógenos. João Ferreira proclamou-se "rei" e estabeleceu os costumes da comunidade ali formada. Por exemplo, cada homem poderia ter várias mulheres, mas cabia ao "rei" o direito da primeira noite: ele dormia a noite de núpcias com a recém-casada, devolvendo-a no dia seguinte ao marido. Todas as outras normas de conduta também eram ditadas por ele. A tentativa de tingir a pedra com sangue humano (para que, finalmente, o milagre acontecesse) foi levada à prática durante três dias de maio de 1838. O primeiro a ser degolado foi o pai do "rei" João Ferreira. Outras 50 pessoas foram sacrificadas, a maioria crianças. Mas, mesmo assim, o rei Sebastião não apareceu. Os fanáticos, então, decidiram sair em procissão, tendo à frente João Ferreira. Encontraram uma patrulha e foram massacrados.



A Associação Cultural Pedra do Reino promove anualmente a grande festa da Cavalgada à Pedra do Reino, evento que relembra o movimento sebastianista liderado por João Antônio dos Santos, a partir de 1835, na Pedra do Reino.

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