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Batatinha.

Oscar da Penha.
Salvador - Bahia
5 de agosto de 1924.
Site:

Carreira

O poeta triste do samba baiano.

O mais importante entre os sambistas que nasceram e viveram na Bahia, Oscar da Penha, o nosso venerado Batatinha, fazia, como disse um dia Maria Bethânia, músicas tristíssimas para serem cantadas no carnaval. Esta procedente afirmação corrobora a ideia de que Batata tinha na tristeza e na dureza do seu dia-a-dia suas fontes maiores de inspiração.

O samba baiano teve em Batatinha o seu maior poeta e compositor de mais de 100 canções. O gráfico aposentado Oscar da Penha, ou melhor "Batatinha", faleceu em Salvador, em 3/01//97, aos 72 anos, sem nunca ter  conseguido em vida o sucesso relativo à qualidade da sua obra. Apenas teve registrado dois álbuns em toda sua trajetória artística. Reconhecido pela crítica especializada e por nomes da Música Popular Brasileira (MPB) teve diversas composições gravadaspor Maria Bethânia, Caetano Veloso, Nara Leão, Jair Rodrigues, Jamelão, Moraes Moreira, dentre outras.

Ele foi o primeiro compositor a inventar o samba-receita, notabilizado na canção O Vatapá, e o pioneiro a introduzir elementos da capoeira na canção popular nos anos 50. Seu estilo melancólico do seu samba, fez a crítica o comparar em certa parte com a ambiência lírica das composições de Noel Rosa, Cartola e Paulinho da Viola. Batatinha fez samba de alto nível fundamentado na tadição do samba de raiz baiana.

Nascido em Salvador, no dia 5/08/24, desde os 15 anos de idade, Batatinha trabalhou como gráfico dos jornais "Diário de Notícias" e "Estado da Bahia" e foi funcionário público da "Imprensa Oficial" (hoje, Empresa Gráfica da Bahia). Casado com Marta dos Santos Penha, teve nove filhos. Desde os 15 anos já compunha e estava envolvido com o ambiente musical da capital baiana. Começou a carreira como cantor descoberto pelo radialista da Rádio Excelsior, o pernambucano Antônio Maria de Moraes, em 44, que o colocou o apelido de Batatinha. O radialista ficou impressionado com a qualidade de sambas dele, como Olha aí, O que é que há, Iaiá no Samba, Receita de Feijoada e  Doutor Cobrador.

O artista foi presença constante interpretando músicas do compositor paulista Vassourinha no programa de auditório chamado "Campeonato do Samba" que se realizava no Cine Guarany. Antes escapou de servir a Força Expedicionário Brasileira na Segunda Guerra Mundial, graças a intervenção do amigo Odorico Tavares. Na época, Batatinha vivia na boêmia com amigos gráficos, como Dufi Cruz que, também, era sambista. Este antes de morrer na década de 50, compôs com Batatinha o samba O Grande Rei. As maiores influências no início da carreira de Batatinha eram de Wilson Batista, Noel Rosa, Aracy de Almeida e Ciro Monteiro. Ele participou durante toda década de 50 do concurso de composição para o carnaval de Salvador promovido pela Rádio Sociedade pelo locutor Renato Mendonça. Apesar do sucesso de seus sambas para o carnaval, ele numca conseguiu ganhar nenhum conscurso.

Seu primeiro samba composto foi o samba Inventor de Trabalho concebido em 1943 e só seria registrada no seu primeiro LP que dividiu com os colegas sambistas baianos Riachão e Panela. O seu primeiro samba gravado foi Jajá está com uma coroa que é um baratointerpretado pelo sambista carioca Jamelão. A letra relata com um raro humor as histórias de um malandro chamado Jajá da Gamboa que se relacionou com uma coroa rica da sociedade soteropolitana e arrancou toda sua grana e até sua dendadura de ouro.

Arte.

Cantor
Compositor

Alguns Sons.

Discografia.

(1997) Diplomacia • EMI • CD
(1993) Batatinha, 50 anos de samba • CD
(1976) Toalha da saudade • LP
(1975) Samba da Bahia • Selo Fontana • LP
(1969) Batatinha e Companhia Ilimitada - Selo JS Discos - (LP)

O primeiro registro fonográfico do cantor Batatinha.

Em 1973, aos 49 anos, finalmente, por iniciativa de Paulo Lima e da gravadora Philips Fontana Special lança o disco "Samba da Bahia" com direção de Edil Pacheco e com a participação de músicos de Salvador, como José Menezes (cavaquinho), Vivaldo (clarineta e sax), Edson (violão de 7 cordas), Armandinho (bandolim), Edil Pacheco (violão), Everaldo Júnior (baixo), Chorinho (trombone), Pedro Torres e Valdomiro (piston), Cacu, Sambador, Tamborim, Miguel e Edmundo (percussãso) . No LP, Batatinha comparece com os sambas-canção Diplomacia, Ministro do samba, Inventor do Trabalho e o Direito de Sambar. Batatinha gostava de se comparar com outro grande do samba, Cartola, pois chegaram ao registro fonográfico com idades semelhantes. As gravações foram realizadas em quatro madrugadas no Teatro Vilha Velha, sem apresença de público.



Em 76, grava o primeiro e único álbum-solo, "Toalha de Saudade", que traz a regravação do samba Espera,sucesso na voz de Alcione. A letra do samba é um exemplo nítido da faceta de uma melancolia herdada do lamento dos escravos misturada com a alma portuguesa. Antes de mais nada, o lamento de um sambista negro baiano de rara sensibilidade poética: "É doloroso esperar/ e sem numca chegar/ quem a gente quer/ e com a alma em desespero/ se preocupa no espelho/ uma solução qualquer". Pela qualidade rítmica e lírica, o álbum sendo escolhido pela crítica especializada da imprensa como melhor álbum de samba daquele ano.



O álbum "Toalha da Saudade" traz ainda a participação do sambista baiano em Rosa Tristeza e de Ederaldo Gentil em Ironia. Batatinha tinha mágoas naturais de quem havia vivido na pobreza e não conseguia se encaixar no mercado da música popular brasileira. Chegou a reclamar de terem tentado enquadrá-lo como cantore de samba de roda, mas ele relutava em ser cerceado a algo mais limitado. Fazia questão de se fazer samba de origem africana, do semba angolano, mas com influência do samba-canção urbano brasileiro. Pertencente à Irmandade do Rosário dos Pretos, foi devoto dos sambas concisos, despretensiosos, mas nunca destituídos de ambição estética.



Batatinha nunca desistiu de promover o samba como expressão artística genuína do povo brasileiro. Incentivou e promoveu diversos eventos ligados ao gênero, como a "Segunda do Samba" e o "Dia do Samba", no Largo do santo Antônio. Essas festas sempre contaram com o prestígio e presença de nomes da MPB, como Chico Buarque e Luís Melodia,  graças à admiração que eles nutriam pelo organizador do evento.

Continou fazendo shows esporádicos em circuitos mais fechados e culturais, como o circuito universitário do Projeto Pixiguinha que ele fez, em 83, ao lado da cantora carioca Elza Soares. Chega a fazer shows, em 87, com o músico baiano Saul Barbosa e mais outros cada vez mais esporádicos. No ano seguinte, comemora os 44 anos de carreia artística num show no Teatro Vilha Velha reunindo Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Margareth Menezes, Gerônimo, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Carlos Pita  e outros.​

Curiosidades.

Ele foi o grande poeta do povo negro e pobre da Bahia. Suas canções, quando não traduziam denúncias sociais diretas, desfiavam liricamente as incertezas do amor e o peso gigante impregnado nas existências que experienciam a escassez, além de reverenciar a música como elemento de salvação, de expurgação daquilo que não se podia por conta das limitações sócio-econômicas geradas pela pobreza; sem falar das dificuldades trazidas pelo forte racismo que assolava (e ainda assola) a nossa bela e gostosa Salvador.

“Ninguém sabe quem sou eu/ Também já nem sei quem sou/ Eu sei bem o sofrimento/ De mim até se cansou/ Na imitação da vida/ Ninguém vai me superar”, eis os tocantes versos de Imitação da Vida, como emblemas da alma sofrida de Batatinha, tão importante para o Brasil quanto Cartola, Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, Ismael Silva; ao mesmo tempo, é o mais injustiçado de todos, correndo sérios riscos de ter sua memória apagada pelo tempo e de ser esquecido como foi quase esquecido o nosso Gordurinha.


A beleza existencial de Batata, que além de uma obra significativa, deixou uma família grande de músicos, pode ser verificada no documentário Batatinha – O Poeta do Samba, feito por Marcelo Rabelo, lançado neste ano de 2009, e lotado de cenas comoventes e eloquentes ao expressar uma narrativa que nos instiga a pensar que a Bahia tem uma dívida sócio-cultural alta a pagar à memória deste engenhoso poeta baiano.



Talvez alguns dos mais importantes cantores e compositores vivos do Brasil tenham emprestado suas vozes à obra de Batata, no primoroso disco Diplomacia, lançado em 1998, com relevante produção de Jota Velloso e Paquito. Nele, o disco, estão Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jussara Silveira eternizando Ironia, obra-prima de Batatinha e Ederaldo Gentil – Jussara naquela categoria única expressando-se como uma das melhores cantoras brasileiras na atualidade.


E ela, Maria Bethânia, concisa em Bolero, mas magistral, assinando vocalmente a sua grandeza de artista inesquecível na ambiência cultural deste País; ela que era a cantora favorita de Batatinha e que o lançou para o Brasil em seu primeiro LP,  com data de 1965; ela que deu a um dos seus CDs mais importantes o título Imitação da Vida (1997) a partir da grande canção deste compositor aqui em questão.

Precisamos preservar a memória de Batatinha, cuidar da sua obra, mobilizar festivais em Salvador, ensinar seu nome em nossas escolas, criar uma Fundação. Precisamos, de algum modo, restituir aos seus este débito que temos por nossa negligência em relação a este grande talento que se inscreveu na história musical da terrinha. E quando falamos de Batatinha, recuperamos Ederaldo Gentil, Edil Pacheco, Riachão. E deixamos alegres outros mestres como Nelson Rufino.
Fonte: http://jeitobaiano.atarde.uol.com.br
                                                                                                                                                   Texto de Marlon Marcos.
                                                                                                                                                   A DOR COMO INSPIRAÇÃO
                                                                                                                                                   (especial para Jeito Baiano)


Seu pionerismo remonta até a primeira incursão da capoeira na música brasileira que ele fez com o grupo de Cancioneiros do Norte através da Rádio Cultura de Salvador. Em 1951, ele compôs Samba e Capoeira e que foi executada em 1954.  A proposta estéwtica de misturar as melodias das músicas da dança afro-baiana num formato de cancioneiro popular ganhou força com outros nomes da música brasileira, como Clodoaldo Brito e Baden Powell e Vinícius de Moraes. Por conta dessa iniciativa teve seu nome incluído no trabalho sobre a capoeira etnógrafo Valderloir Rego.



Em 1960, ele perdeu com uma das suas mais refinadas composições chamada Diplomacia, cantado por Humberto Reis. O samba entrou na trilha sonora do primeiro filme de Gláuber Rocha,  "Barravento". A letra confessional do samba na época intitulada de Tormentorefletia o estado de espírito de Batatinha na busca pelo reconhecimento:

"...Luto por um pouco de conforto/Tenho o corpo quase morto/Não acerto nem pensar/ Mesmo com tanta agonia/ ainda posso cantar// Meu desespero ninguém vê/ sou diplomado em matéria de sofrer/ Falsa alegria, sorriso de fingimento/ Alguém tem culpa  desse meu padecimento".

Pautado por uma melancolia atípica para um baiano pode ser ilustrada no samba Direito de Sambar. A letra revela a nuance de um compositor a expor sua face sensível em plena avenida de carnaval: "É proibido sonhar/ Então me deixe o direito de sambar/ ... Já faz dois anos/ que não saio na escola/ e saudade me devora/ quando vejo a turma passar".



Nesse mesmo ano, Batatinha vira sucesso nacional como compositor  depois da gravação de Jamelão que gravou Javá da Gamboa. Esse fato chama a atenção dso intérpretes para o talentoso compositor negro baiano. Maria Bethânia seria o primeiro grande nome da MPB a lhe dar vez, gravando,  em 64, os sambas Diplomacia, Toada da Saudade, Imitação e a Hora da Razão nos shows do Teatro Opinião e no show do álbum "Rosa dos Ventos". Depois, ela gravaria ainda a marchaA História do Circo. Em 66, o sambista baiano Ederaldo gentil o convida para musicar a peça teatral "Pedro Mico" de Antônio Callado. Ele compõe o samba Espera que foi gravado pela cantora maranhense Alcione. Ainda participa, em 67, de uma produção de um vídeo-documentário da tv italiana estatal RAI sobre o samba brasileiro.

A morte e as homenagens póstumas.

Entra na década de 90 realizando shows esporádicos e sem conseguir lançar o segundo álbum-solo. Não conseguiu realizar seu último intento artístico, pois, em janeiro de 97, morre vítima de câncer na próstata. Foi enterrado no dia 04/01/97 no cemitério Jardim da Saudade. Apenas conseguiu participar de um projeto de homenagem que não teve tempo de ver concluído. Grava, em 90, o álbum "Batatinha - 50 anos de Samba" com distribuição independente   a regravação de novas e antigas composições, como Aruepã anteriormente gravada por Jair Rodrigues.

Deixou 10 filhos e foi casado por duas vezes. Sua herança cultural é inestimável. Os produtores Paquito e Jota Veloso recuperaram um rico acervo de Batatinha e estão abertos a disponibilizar essas canções para quem quiser gravá-los. A vida do mestre do samba melancólico que, também, tinha seu lado alegre continua na perpertuação da sua obra de raiz baiana, mas de valor universal. A morte do artista não impediu que um projeto de um álbum em sua homenagem fosse lançado. Os produtores Paquito e Jota Veloso já tinham recolhido em um gravador  doméstico mais de 70 músicas de Batatinha e escolheram 17 que seriam gravadas por nomes da MPB. Com o patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, o álbum "Diplomacia" é lançado em maio de 98 pela gravadora EMI

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